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"3. Eles estão preocupados com a reforma da CEU (Casa do Estudante Universitário), a verba já está assegurada e as obras estão previstas para começar em junho de 2008. Nós, junto ao Reuni, trouxemos R$ 12 milhões para construir também uma nova CEU, um complemento, uma ampliação que nós podemos dar de acomodação do jovem de baixa renda que vem estudar na UnB. Isso está assegurado, os recursos já estão na Casa."
UnB Agência
INVASÃO - 08/04/2008
Reitor da UnB concede entrevista coletiva
Na terça, 8 de abril, Timothy Mulholland respondeu perguntas da imprensa. Confira a íntegra da fala inicial e das respostas
Nessa terça-feira, 8 de abril, o reitor da Universidade de Brasília (UnB) Timothy Mulholland deu a primeira entrevista coletiva para imprensa depois da invasão da Reitoria, ocorrida no dia 3 de abril. Ele estava acompanhado pelo vice-reitor, Edgar Mamiya; o decano de Ensino de Graduação, Murilo Camargo; o decano de Pesquisa e Pós-graduação, Jaime Santana; o decano de Administração, Érico Weidle; e o procurador da UnB, Weber Holanda. Confira a íntegra da coletiva:
FALA INICIAL DO REITOR TIMOTHY MULHOLLAND
PROJETO DE EXPANSÃO DA UnB
“A partir de 2005, quando a atual administração assumiu a Reitoria, a UnB se engajou em um projeto extremamente avançado de expansão da universidade e de inclusão social. É um projeto que, hoje, tem a possibilidade de colocar o dobro de alunos na universidade em um prazo de cinco a seis anos.
Trabalhamos com a criação dos campi da UnB fora da sede - em Planaltina, Gama e Ceilândia - e de pólos em sete cidades do Distrito Federal e ainda de aumentar sensivelmente a oferta de cursos aqui no Plano Piloto. São investimentos na ordem de R$ 100 milhões, provenientes do Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), do Governo Federal, que a UnB participa. Entendemos que o projeto vai levar a universidade pública brasileira para jovens que não têm acesso a ela.
INCLUSÃO SOCIAL FEITA PELO PROJETO
Além disso, trabalhamos com educação a distância. Temos cursos da UnB sendo oferecidos, literalmente, do Oiapoque ao Chuí. São cursos de graduação plenos para jovens que jamais teriam acesso a uma universidade pública de outra forma. Trabalhamos com a universidade brasileira para a inclusão de jovens negros, indígenas no nosso corpo discente. E essas políticas nem sempre são compreendidas e, por vezes, não agradam.
Entendemos que a UnB tem sofrido críticas e mesmo ataques na mídia por conta do arrojo dessas políticas e da vontade que temos de alcançar o jovem brasileiro de baixa renda, o jovem da periferia, o jovem negro, o jovem indígena. Entendemos que há uma reação a isso. Mas, temos a firmeza de que a nossa política é a que vai assegurar um futuro para o Brasil, não só para o jovem brasileiro que deseja estudar, mas para o próprio país que se recente da falta de profissionais e da falta de mão-de-obra diferenciada para o seu desenvolvimento.
Estamos engajados em um projeto grande de desenvolvimento tecnológico para a nossa região, em parceria com o governador do DF, José Roberto Arruda. Um trabalho de fôlego para que o DF tenha uma base tecnológica própria para o seu desenvolvimento e que possa ser um pólo de desenvolvimento e de alta tecnologia para a nossa região.
NEGOCIAÇÕES PARA DESOCUPAÇÃO PACÍFICA E COMPROMISSOS DA UnB
Enfim, somos uma universidade que busca o seu espaço e busca estabelecer o seu papel no Brasil do século 21 e que não teme trabalhar nesse sentido e com as dificuldades que podem advir desse processo.
No momento, nós temos uma ocupação da nossa Reitoria por jovens, principalmente, da universidade. Isso aconteceu a partir do dia 3 de abril. De imediato, buscamos conversar com os estudantes e criamos uma equipe de negociação. Nós buscamos de todas as formas um entendimento para que a ocupação pudesse se dar de forma pacífica e sem violência. E que os jovens também saíssem com os seus pleitos ouvidos pela Reitoria e naquilo que fosse possível ser atendido. Nas reuniões que fizemos com os jovens, nós avançamos muito na pauta que eles colocaram. Avançamos sensivelmente. Vou dar alguns exemplos:
1. Eles querem uma estatuinte, uma reunião ampla para debater a universidade no seu sentido mais amplo e mais pleno. Concordamos em encaminhar um projeto desse tipo para o Conselho Universitário.
2. Eles estão preocupados com a falta de professores e a falta de técnico-administrativos, nós também. Felizmente, hoje temos concursos em andamento às dezenas para professores e técnicos. A perspectiva é de contratarmos 900 professores até 2010, dentro do Reuni.
3. Eles estão preocupados com a reforma da CEU (Casa do Estudante Universitário), a verba já está assegurada e as obras estão previstas para começar em junho de 2008. Nós, junto ao Reuni, trouxemos R$ 12 milhões para construir também uma nova CEU, um complemento, uma ampliação que nós podemos dar de acomodação do jovem de baixa renda que vem estudar na UnB. Isso está assegurado, os recursos já estão na Casa.
4. Eles estão preocupados com a construção dos prédios da UnB nos campi de Ceilândia e do Gama, que estão demorando por conta da burocracia, nós também. Mas a nova licitação desses dois prédios iniciais já está na praça, já está na rua.
5. Eles querem um restaurante universitário no campus de Planaltina e o segundo prédio de Planaltina, prestes a ser licitado, contempla essa preocupação.
6. Eles querem debater o papel das fundações das universidades e essa é uma preocupação também dos docentes. E nós vamos ter no nosso Conselho Universitário um debate profundo sobre as fundações. Elas existem no Brasil desde os anos 30 e se vinculam às universidades desde aquela época. São instrumentos de flexibilização e gestão de projetos para as universidades e, por outro lado, as relações apresentam dificuldades que precisam da atenção da sociedade, do congresso e das universidades. Nós pretendemos aprofundar essa discussão na UnB e estabelecer políticas novas que possam, ao mesmo tempo, permitir o benefício que as fundações possam trazer e diminuir, ou eliminar, as dificuldades que podem surgir.
7. Mas também, para atender às demandas dos estudantes, nós vamos discutir as normas para a escolha dos dirigentes. A eleição do reitor, como o próximo reitor será escolhido. Os estudantes reivindicam o que chama paridade, peso igual para alunos, professor e técnico da UnB. É uma hipótese para essa discussão e tem que ser desenvolvida em toda a comunidade, com todos os professores, todos os técnicos e todos os estudantes. Nós nos comprometemos a lançar esse processo a partir desse semestre.
8. Eles pedem aumento de vagas de bolsas para estudantes de baixa renda, e nós oferecemos um aumento de 20%, o que seria na ordem de 35 a 40 bolsas a partir de maio para os jovens que necessitam delas.
9. E ainda querem participação na discussão da expansão da UnB e, prontamente, oferecemos lugar para representantes estudantis e técnicos nesse processo.
Então, a Reitoria está mostrando, com essa proposta que foi encaminhada aos jovens, um esforço grande de chegar até as preocupações que eles têm sobre a universidade, as propostas que nós queremos trabalhar juntos com os estudantes da UnB. Esse é o ideal para qualquer universidade: na coletividade se busquem os caminhos, se debatam e se amadureçam as soluções para as questões que se colocam. Essa é a nossa vontade.
RADICALIZAÇÃO DO MOVIMENTO E PREJUÍZOS PARA UnB
Com a radicalização que houve ontem, que vimos com muita tristeza - nós tivemos uma barreira de seguranças da UnB, que serviram de proteção ao prédio, que acabou rompida. Essa barreira foi violentamente agredida, era fixa, e nossos servidores públicos federais, alguns deles foram feridos, outros agredidos, de forma inaceitável para um servidor público e, então, essa barreira foi desmanchada para evitar problemas maiores.
Com isso, o prédio inteiro está entregue hoje às mãos dos estudantes. Eles são responsáveis por tudo que está ali. Pela integridade física do prédio e do seu conteúdo. Sabemos que ontem o escritório do Decanato de Pesquisa e Pós-graduação foi arrombado, quebrando-se o vidro. Isso não é um bom sinal. Nós esperamos desses jovens, que são os jovens da nossa universidade, a responsabilidade que eles próprios assumiram com os atos que praticaram.
É um prédio onde funciona toda a administração central da UnB, onde há todos os nossos documentos, processos, tudo que se faz para a universidade funcionar encontram-se ali. E isso nos traz um outro problema, que é o funcionamento dos serviços que a reitoria presta. Além de receber autoridades e termos atividades para se encontrar com a sociedade, nós fazemos muitas coisas importantes para a nossa comunidade.
Um exemplo é a folha de pagamento da UnB, que está parada. Ela só funciona quando é alimentada com todos os dados necessários no início do mês para que a folha, então, possa ser paga no mês seguinte. Está parada a folha de pagamento, não só a dos professores, técnicos, estagiários, prestadores de serviço, dos bolsistas, bolsas de permanência, mas todos que dependem da universidade para uma receita ou auxílio financeiro. Todos eles estão hoje ameaçados.
A expansão da UnB está em xeque. Precisamos funcionar os serviços da reitoria para que as atividades previstas nos campi fora da sede possam acontecer. Os concursos... Os estudantes querem professores, nós queremos professores, mas para isso temos que fazer os concursos e eles estão prejudicados. O que pode significar perda de oportunidade de trazer professores para cá em um curto prazo.
Nós temos inúmeros projetos, contratos e convênios. A UnB deve ter por volta de dois mil projetos em andamento. A qualquer instante, eles passam por tramitação na Reitoria. Tem que ter todo um trabalho jurídico, técnico e financeiro para que esses projetos sejam executados. Esses projetos estão prejudicados.
O orçamento está parado, assim como toda a movimentação dos recursos da universidade. A Procuradoria Jurídica tem dificuldade de atender aos prazos da Justiça, que podem trazer prejuízos para a universidade graves nessa esfera judicial. O pagamento de fornecedores de toda ordem, a autorização de afastamento de professores que vão para os congressos e participar da vida científica, passagem, diárias, funcionamentos dos conselhos.
Temos mais de dez conselhos que funcionam na Reitoria. O Plano de Saúde está sendo implementado e os servidores têm que aderir e têm um prazo para isso. Esse prazo pode se esgotar.
A reforma da CEU, por exemplo, depende do funcionamento da Reitoria. Enfim, ela serve para alguma coisa e ela parada, do jeito que está inacessível significa que nossa universidade caminha para também parar. Isso é muito grave. Isso os estudantes devem refletir, se a invasão significa reivindicação e nós temos negociação, não há porque ser mantida dessa forma, já pode chegar a uma semana dentro de pouco tempo.
Fazemos um apelo a esses jovens, que eles reflitam sobre isso, que pensem sobre a universidade além das suas reivindicações e que possamos voltar a um clima de diálogo e trabalho e que a universidade possa funcionar na sua plenitude, com todos os esforços, de todas as nossas comunidades aqui engajadas.
Temos na nossa comunidade 28 mil alunos, mais de dois mil professores, mais de cinco mil servidores. Todos eles estão aguardando a volta à normalidade, a volta ao trabalho, a volta à possibilidade de contribuir. Então, gostaria de encerrar com isso.
Nós da Reitoria, vice-reitor, decanos, nosso procurador, estamos à disposição desses jovens para discutir, avançar na negociação e buscar a saída pacífica que todos desejamos.”
Todos os textos e fotos podem ser utilizados e reproduzidos desde que a fonte seja citada. Textos: UnB Agência. Fotos: nome do fotógrafo/UnB Agência.
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